📖 Antes de Milão: o nascimento da educação de surdos
No século XVIII e XIX, a educação de pessoas surdas florescia em várias partes do mundo. Escolas específicas foram criadas, muitas delas dirigidas por professores surdos, que ensinavam por meio das línguas de sinais.
Essas escolas eram espaços de acolhimento, aprendizado e pertencimento. A comunicação visual não era vista como limitação, mas como expressão legítima da identidade surda.
Foi um período de grandes conquistas — até que, em 1880, a história tomou um rumo inesperado.
⚖️ O Congresso de Milão: a decisão que impôs o silêncio
Em setembro de 1880, na bela cidade de Milão, na Itália, aconteceu o Congresso Internacional de Educadores de Surdos. O evento reunia representantes de vários países com o propósito de discutir os melhores métodos para ensinar pessoas surdas.
Havia duas correntes principais:
- A oralista, que acreditava que o surdo deveria aprender a falar e ler lábios;
- A gestual, que valorizava as línguas de sinais como meio natural de comunicação.
Porém, a maioria dos participantes do congresso eram ouvintes, e quase nenhum dominava a língua de sinais. O resultado?
Uma votação injusta e tendenciosa, que decidiu que somente o método oral deveria ser utilizado nas escolas.
A Língua de Sinais foi proibida, e o uso das mãos, que até então educava, conectava e dava voz, foi silenciado.
💔 As consequências do Congresso de Milão
A decisão teve consequências devastadoras.
Professores surdos perderam seus empregos. Crianças surdas foram obrigadas a falar e ler lábios, mesmo sem compreender totalmente o que ouviam.
O ensino tornou-se exaustivo e frustrante, e o rendimento escolar despencou.
Em vez de inclusão, o que se viu foi exclusão — um silêncio imposto, que apagou por décadas o direito de os surdos aprenderem em sua própria língua.
Esse “apagamento linguístico” afetou gerações inteiras. E ainda hoje, seus reflexos podem ser percebidos em países que demoraram a reconhecer a importância das línguas de sinais na educação.
✊ A resistência e o renascimento da Língua de Sinais
Mas o povo surdo nunca deixou de resistir.
Mesmo com a proibição, em vários países, os surdos continuaram se comunicando em segredo — nos corredores, nos pátios e em encontros silenciosos, mantendo viva a sua língua.
Essa resistência silenciosa se transformou em movimento social.
Com o tempo, pesquisadores, educadores e ativistas começaram a demonstrar cientificamente que as línguas de sinais são línguas completas, ricas e estruturadas, capazes de expressar qualquer conceito.
Foi o início da reviravolta.
No Brasil, esse reconhecimento veio oficialmente com a Lei nº 10.436/2002, que reconhece a Libras – Língua Brasileira de Sinais – como meio legal de comunicação e expressão.
💙 Um novo tempo de inclusão
Hoje, ao olharmos para o passado, o Congresso de Milão nos lembra de algo profundo:
negar a língua de um povo é negar a sua identidade.
A voz do surdo está nas mãos, e cada sinal é uma afirmação de vida, cultura e pertencimento.
A história de 1880 é um convite para nunca mais permitir que o silêncio seja imposto sobre quem nasceu para se expressar — com as mãos, com o coração e com o olhar. ✋💙
✋🌿 Reflexão pessoal
Cada vez que revisito essa parte da história, sinto um misto de dor e admiração. Dor, por imaginar quantos sonhos foram interrompidos pelo preconceito e pela imposição do “ouvir a qualquer custo”.
Mas também admiração — porque, mesmo diante da opressão, o povo surdo resistiu com as mãos, manteve viva sua língua e, com ela, sua cultura e sua força.
Como intérprete e apaixonada pela comunicação, reafirmo todos os dias: inclusão não é favor, é direito.
E cada sinal que se faz hoje é um eco de liberdade, um lembrete de que a história pode ser reescrita com empatia, respeito e amor. 💙🤟
🌟 Convite à ação
Que tal fazer parte dessa mudança?
Aprenda Libras.
Respeite o tempo do intérprete.
Olhe nos olhos de uma pessoa surda.
Ouça — mesmo no silêncio.
Porque cada gesto de empatia é um passo rumo a uma sociedade verdadeiramente inclusiva e humana. 💙





