Em março de 1988, um dos maiores marcos da história da comunidade surda aconteceu nos Estados Unidos.
O cenário era a Universidade Gallaudet, em Washington, D.C. — a primeira universidade do mundo criada especialmente para surdos e pessoas com deficiência auditiva.
Embora já existissem instituições voltadas à educação de surdos, como o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) no Brasil, Gallaudet se destacava por oferecer ensino superior e gestão autônoma voltada à cultura surda.
Até aquele momento, porém, algo chamava atenção: nenhum presidente surdo havia sido nomeado para dirigir a universidade.
Quando o conselho anunciou a escolha de uma presidente ouvinte, Elizabeth Zinser, estudantes e professores reagiram com indignação.
Eles não aceitavam mais ser representados por quem não vivia a realidade da surdez nem compreendia sua língua e identidade.
Nascia ali o movimento que transformaria a história da educação e da representatividade surda:
✊ “Deaf President Now!” — “Presidente Surdo Já!”
🔹 A Greve que Fez o Mundo Ouvir o Silêncio
Durante sete dias históricos, o campus da Universidade Gallaudet se tornou símbolo de resistência, união e orgulho surdo.
Estudantes bloquearam os portões, levantaram cartazes com a frase “Deaf President Now”, organizaram marchas e entrevistas em língua de sinais.
A mobilização ganhou repercussão mundial. Pela primeira vez, a mídia deu voz à comunidade surda que lutava por igualdade, dignidade e liderança própria.
O movimento apresentou quatro exigências principais:
- A nomeação de um presidente surdo;
- A renúncia da presidente ouvinte, Elizabeth Zinser;
- A demissão do presidente do conselho, que havia desrespeitado os surdos;
- E que nenhum estudante fosse punido pelos protestos.
As imagens de mãos erguidas em Libras e rostos determinados correram o mundo.
O movimento Deaf President Now inspirou milhares de pessoas e despertou a consciência global sobre o direito dos surdos à representatividade e à autonomia.
🔹 A Vitória das Mãos que Falam
Depois de uma semana de protestos intensos, o impossível aconteceu:
Elizabeth Zinser renunciou, e o conselho nomeou Dr. I. King Jordan, o primeiro presidente surdo da Universidade Gallaudet.
Em seu discurso histórico, ele disse:
“O mundo finalmente entendeu que os surdos podem fazer qualquer coisa — exceto ouvir.”
Essa vitória representou muito mais do que uma mudança administrativa.
Foi o início de uma nova era — a era da autodeterminação surda.
A partir dali, a comunidade surda passou a ocupar espaços de liderança, fortalecer o orgulho de ser surdo e ampliar a luta pela inclusão e reconhecimento linguístico, algo que mais tarde inspiraria movimentos semelhantes no Brasil e no mundo.
💭 Reflexão Pessoal
O movimento “Deaf President Now” não é apenas um capítulo na história da educação de surdos — é um símbolo de empoderamento e coragem.
Quando conheci essa história, vi nela o reflexo da luta que vivemos aqui no Brasil.
Ainda hoje, tantos surdos enfrentam o desafio de provar sua capacidade, de conquistar respeito e de ocupar os espaços que merecem.
Essa greve estudantil mostra que mudanças reais nascem da união e da consciência do nosso valor.
Aqueles jovens nos ensinaram que as mãos podem falar mais alto que as palavras, e que o silêncio, quando se transforma em resistência, é capaz de mover o mundo.
🤝 Convite à Ação
A história do movimento surdo em Gallaudet continua viva cada vez que alguém escolhe lutar por inclusão.
Você pode fazer parte dessa mudança:
- Apoie e compartilhe o trabalho de líderes surdos e de intérpretes de Libras;
- Incentive empresas, escolas e igrejas a abrirem espaço para profissionais surdos;
- Valorize a Libras como língua viva e essencial para a comunicação inclusiva;
- E, se puder, aprenda Libras — porque compreender o outro é o primeiro passo para incluir.
O grito que ecoou em 1988 ainda ressoa:
“O mundo precisa ouvir com os olhos e compreender com o coração.”





