Em 1857, um convite atravessou o oceano e mudou para sempre a história da inclusão no Brasil.
O imperador Dom Pedro II, movido por sua visão humanista e pelo desejo de ampliar o acesso à educação, trouxe ao país o professor francês Ernest Huet, para fundar o Imperial Instituto de Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro.
Esse gesto, aparentemente simples, foi o ponto de partida para o nascimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) e para a formação de uma comunidade surda consciente, comunicativa e vibrante.
Ernest Huet: o professor que trouxe uma nova forma de comunicar
Ernest Huet era surdo, educador e ex-aluno do Instituto Nacional de Surdos de Paris, fundado por Abbé de l’Épée, o “pai dos surdos”.
Quando chegou ao Brasil, trouxe consigo o método visual de ensino e a Língua de Sinais Francesa (LSF) — que se tornaria a base sobre a qual nasceria a nossa Libras.
No Instituto, Huet ensinava leitura, escrita, ofícios e, principalmente, a comunicação por meio dos sinais.
Com o tempo, os gestos franceses se misturaram a sinais locais, regionais e expressões criadas pelos próprios alunos — dando origem a uma língua viva, genuinamente brasileira.
🏛️ O nascimento do primeiro espaço de inclusão no país
O Imperial Instituto de Surdos-Mudos, fundado em 26 de setembro de 1857, foi a primeira escola para surdos do Brasil e uma das primeiras da América Latina.
Ali, pela primeira vez, crianças surdas eram reconhecidas como aprendizes capazes, e não como “incapazes” ou “silenciosas”.
O Instituto se tornou o berço da educação bilíngue no Brasil, um espaço onde as mãos começaram a ganhar voz e a cultura surda começou a florescer.
Hoje, o local é conhecido como Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) no Rio de Janeiro — símbolo de resistência, história e transformação.
🧐 Curiosidade histórica: Dom Pedro II tinha algum parente surdo?
Muitos se perguntam se Dom Pedro II teria fundado o Instituto por ter algum parente surdo — mas não há qualquer registro histórico que comprove isso. Na verdade, o imperador foi movido por algo ainda maior: sua paixão pela ciência, pela educação e pela inclusão.
Dom Pedro II era um homem de mente brilhante e aberta.
Falava mais de 10 idiomas, estudava astronomia, história, filosofia e se correspondia com os maiores intelectuais da Europa.
Acreditava profundamente que a educação era o caminho para o progresso do país e que todas as pessoas, inclusive aquelas com deficiência, mereciam oportunidades de aprender.
Sua inspiração veio do contexto europeu da época, especialmente da França, onde já existiam escolas para surdos e cegos.
Antes mesmo do INES, o imperador havia fundado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant), em 1854.
A criação do Instituto de Surdos-Mudos, portanto, não nasceu de um vínculo familiar, mas de um ideal humanitário e educacional.
Dom Pedro II acreditava que a educação deveria ser acessível a todos os cidadãos do Império, e é por isso que seu gesto foi tão revolucionário — um ato de empatia e de fé no poder do conhecimento.
🌱 Da Língua de Sinais Francesa à Libras
A Língua de Sinais Francesa (LSF) introduzida por Huet foi aos poucos se misturando com expressões visuais criadas pelos alunos brasileiros. Desse encontro de culturas e gestos, nasceu a Libras, uma língua única, visual e identitária, que carrega em si as marcas da história, da resistência e da criatividade de um povo.
Mais de um século depois, em 2002, a Lei nº 10.436 reconheceu oficialmente a Libras como meio legal de comunicação e expressão, coroando o legado iniciado por Dom Pedro II e Ernest Huet.
💙 Um legado que atravessa o tempo
O INES não é apenas um prédio histórico — é um símbolo de liberdade linguística e inclusão social.
Foi lá que se formaram as primeiras gerações de professores surdos, intérpretes e líderes comunitários.
É um espaço onde a história ainda pulsa nas mãos que sinalizam e nas vozes que interpretam o que um dia foi silenciado.
✋🌿 Reflexão pessoal
Sempre que visito a história do INES, sinto um profundo respeito pelo gesto visionário de Dom Pedro II.
Em uma época em que pouco se falava sobre inclusão, ele escolheu ouvir o silêncio e dar-lhe significado.
Ao trazer Ernest Huet ao Brasil, ele não apenas fundou uma escola — ele fundou uma ponte entre mundos.
Como intérprete, vejo nesse gesto o início de uma caminhada que ainda continua: a de tornar o conhecimento acessível, a comunicação possível e o respeito inegociável.
A história do INES é um lembrete de que a verdadeira educação não se impõe — ela acolhe, compreende e liberta. 💙🤟
🌟 Convite à ação
Aprender Libras é um ato de amor.
Cada sinal é uma conexão, uma porta aberta para a empatia e para o entendimento entre pessoas.
Que a inspiração de Dom Pedro II e de Ernest Huet nos mova a continuar essa jornada, fazendo da inclusão uma prática diária e do respeito uma linguagem universal. ✋💙





